Mosaico

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Processo de ilustração em aquarela


Processo de pintura em aquarela


O poeta e a água

De dentro do poeta, a arte funciona como água.
Pode tentar conter toda a arte possível, mas ela encontra uma saída, nem que seja por uma pequena fresta.

O artista (quando não famoso), em sua maior parte do tempo, leva um trabalho paralelo, disfarçado de profissão principal. Esse trabalho serve apenas para pagar as contas diárias e patrocinar a produção de sua própria arte. É sofrido, cansativo e as vezes falta esperança, mas quem sabe, o Rubem Alves esteja certo mesmo, quando já dizia que ostra feliz não faz pérola.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Voz do Limite

Despertou de um sonho que jamais veria novamente. Poucas lembranças ficaram, apenas impressões. Com seu despertar veio a estranha sensação de ressaca e um sussurro tímido. Sussurro que estava anestesiado até então. Esse sussurro a fez caminhar e buscar seu destino. 

O sussurro cresceu a medida em que a saudades do sonho aumentava. Uma pequena voz se tornou um eco audível que tomava todos os espaços de sua acústica.

Ivi pôs-se a caminhar. Buscou saciar aquela voz, sem saber que assim o fez. A voz a impelia trilhar pelas linhas do limite. E aquele sussurro tornou-se a Voz do Limite. 

A Voz do Limite fez Ivi procurar por grandes realizações, quando os caminhos do mundo não lhe foram suficientes, acentou-se em terras frutíferas. Mas os frutos da terra não lhe foram suficientes. 

Ivi passou a construir grandes obras, grande empreendimentos, mas a cada final a Voz do Limite aumentava no profundo espaço de seu coração. Ivi foi para o deserto, e naquelas areias usou grandes pedregulhos para fazer um templo. Nesse santuário fez sacrifícios, mas ainda assim, a Voz do Limite ecoava. Sacrificou suas plantações e sementes, depois entregou filhos seus, e depois passou a se cortar, mas a Voz do Limite trepidava ainda mais forte.

Percebeu que o templo era pequeno demais. Ivi subjugou seus filhos para que construíssem maiores templos, mas nenhum deles calava a Voz do Limite. 

Ivi passou a peregrinar em terras ainda desconhecidas, ali encontrou a Razão. Razão era austera e sábia. Contou a Ivi todos os segredos que continha. Convenceu Ivi que ali encontrava-se toda a realidade. Mas por algum motivo, a Voz do Limite não cessava. Ivi passou a acreditar que no dia em que se obtivesse todas as informações que a Razão possuia, a Voz do Limite cessaria.

Certa vez, Razão convidou Ivi para passear sobre os limiares de suas terras. A Voz do Limite a impeliu para que olhasse para depois do abismo. Ivi chegou perto do limiar e ficou encantada com as linhas que se aproximavam. Quando olhou para o abismo, a Razão a empurrou para o absurdo.

Ivi caiu em queda livre no abismo Absurdo e nem Razão poderia resgata-la. Por muito tempo se debateu no ar, quando percebeu que a queda era inevitável, começou a dançar no rítimo da queda. 

Em queda, Ivi lembrou de seus templos, e construiu outros templos, cada vez maiores, onde seus filhos levariam ofertas diárias de sacrifício de horas de trabalho, de tempo de família, de tempo presente e contemplação. Seus filhos trocavam todos os seus valores por pequenas coisas que tinham preços. Preços cada vez maiores a medida que seus desejos aumentavam. 

A Ivi foi dado o poder de observar seus filhos, enquanto era sugada pelo Absurdo. 

Mas ainda assim, a Voz do Limite não se calava, ao contrário gritava, em tão altos decibéis que se confundia nos barulhos de lata, ferro e fogo. 

Foi quando ao longe avistou a Grande Pedra, que caía do céu em tão grande velocidade que pôs todas as construções antigas em pedaços. Seus templos de ouro, prata, bronze e suas últimas construções em parte de ferro e parte de barro foram limpadas dos limites. 

Da Grande Pedra nasce uma árvore, essa dá suas flores e depois de um pequeno calor, frutos. Frutos tão lindos e desejáveis que assustava a própria Voz do Limite. 

Esses frutos tinham aroma da saudades do sonho esquecido. Mas os filhos de Ivi estavam perdidos em seus próprios medos e desejos. Alguns pararam e olharam a árvore na Grande Pedra, e esses começaram a subir o rio, remando contra a correnteza, para chegarem até a árvore. 

Os outros, desciam o rio, e se jogavam no Absurdo. 

Da árvore da Grande Pedra, saiu um fio vermelho que laçou Ivi que estava dançando em queda livre. Ivi juntou tantos filhos quanto pode, para sentarem-se debaixo da árvore. 

Da árvore cai uma bela fruta que se partiu em muitos pedaços, tantos quanto o número de filhos de Ivi. Quando Ivi e seus filhos provaram a fruta, sentiram o sabor do paraíso e nunca mais a Voz do Limite pôs-se a falar novamente.