Mosaico

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Faltas

Faltas. Marcio convivia com muitos espaços dentro de si.
Procurava preencher com palavras de sucesso. De auto-confinça. E de tempos em tempos sentia o sabor da frustração. Um dia decidiu que venceria e fez de tudo para ser alguém na vida. De tempos em tempos se deparava com o muro da mediocridade. Olhava para a parede de tijolos tão iguais e se reconheceu ali ao lado de uma multidão igualmente insignificante, participante apenas de uma máquina universal que giraria sem sentido para lugar nenhum.

O gosto de vazio apenas aumentava. Marcio continuava olhando ao redor e observava tudo o que não tinha. Tudo o que queria ter. E quanto mais fixava em suas carências, mais espaços havia em seu paladar.

Passou a andar sem sentido, sem rumo, frustrado. Até que tropeçou no asfalto. Bateu a cabeça no chão e sentiu uma verdadeira dor. Sentou-se no meio fio. E viu ali uma flor, e observou a beleza da flor. Viu como ela se vestia tão belamente, e pensou que nenhum um rei da terra já havia se vestido de maneira tão elegante.

Olhou pra cima, enquanto as nuvens dançavam devagar, e viu uma revoada. Não sabia dizer a espécie dos pássaros. Fechou os olhos e ouviu os seus cantos, percebeu a alegria daqueles pequenos bichinhos. Pensou que eles nem trabalhavam, nem plantavam ou colhiam, apenas se divertiam com seus rodopios celestes.

Marcio pouco a pouco foi sentindo os espaços dentro de si ficando pequenos. Passou a ser mais grato a sua vida. Começou a dar mais atenção àquilo que tinha do que não tinha. Passou a se preocupar menos em ser alguém e se incomodar menos com o terror da mediocridade. Passou a olhar as pequenas coisas, as grandes belezas da natureza que se escondiam em seres tão insignificantes.

Andava mais devagar, mas em certa direção. Pensou que o sentido era mais importante que a velocidade.

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